06 março, 2012

Decisões decisões

Ao longo dos anos, como ilustradora, tenho recebido várias encomendas de aguarelas que retratam pessoas concretas. Normalmente uso os meus personagens "cabeçudos" para compor estas pequenas histórias em formato A4 e como muitas delas (quase todas) são sobre casais e famílias, quando me quero referir a elas (nos meus ficheiros) chamo-lhes "histórias de amor".

No decurso destas encomendas as pessoas contam-me - espontaneamente ou não - as suas histórias e  eu dou por mim a ler longos emails onde as pessoas se vão expondo e contando aquilo que querem ver representado.

É meio estranho e ao mesmo tempo completamente normal ler assim as vidas das pessoas. No fundo não me contam mais do que querem que eu saiba... mas às vezes, calha falarmos das nossas vidas e acabamos a falar dos nossos medos e inseguranças... E dá aquela sensação de "afinal pensava que era só eu!"

Já calhou falar sobre coisas mais intimas como orientação sexual, e fiquei com vontade de desenhar algo sobre isso. 
Acho que qualquer pessoa normal já terá passado por essa fase (adolescente ou não) em que pôs em causa se seria mais inclinado(a) para os meninos ou para as meninas... 

Eu fui-me sentindo sempre bastante hetero - desde que me lembro - até ter conhecido miúdas que tinham tido tanto namoradas como namorados (abençoada Faculdade de Belas Artes!) e que não eram mais diferentes ou estranhas do que eu própria.
E no entanto, bem pesadas as coisas, tendi mais para os meninos. É a vida.
O que achei curioso nestas conversas de email foi a sinceridade vinda do lado de lá, misturada com um certo medo de ser repudiado(a) e a sensação de se ser um bicho esquisito... quando se calhar é uma dúvida que nos atravessa/atravessou a todos pelo menos uma vez na vida
Fiquemo-nos como estes bichos, que à força de serem hermafroditas não devem ter dilemas deste género!
E fico-me por aqui usando uma frase bonita do Sérgio Godinho (que não fala destas coisas concretamente, mas que fala do amor).

(Falei-vos desse ventre)
Quem quiser que acrescente de sua lavra
Que a bom entendedor meia palavra basta, é só
adivinhar o que há mais
Os segredos dos locais
Que no fundo são iguais
Em todos nós.