Estava a limpar o meu desktop (que é sempre um work in progress) e esbarrei em duas fotos que queria publicar aqui e que nunca achei a ocasião certa. O tema é um pouco fúnebre, mas tem o seu quê de belo, e como eu gosto de visitar cemitérios seja quando fôr (para ver as esculturas) hoje achei que seria boa altura para contar esta história. Cá vai:
De vez em quando a minha vida leva-me a viver uns meses em Montemor-o-Novo, terra alentejana simpática e culturalmente bastante activa nas áreas da animação de volumes (onde normalmente vou trabalhar), cerâmica, arte e dança contemporâneas, entre outras.
Da ultima vez que lá estive poisada, há cerca de dois anos, resolvi num belo sábado de sol ir passear para o cemitério, que fica mesmo colado ao Convento de São Francisco e ao terminal rodoviário.
O cemitério é pequenito e muito branco. Aqui e ali havia uma ou outra viuva a cuidar de campas de familiares, a limpar e as lages e a colocar flores. O cemitério de resto tinha flores por todo o lado, coloridas e farfalhudas.
E todas de plástico.
Dei uma volta à procura de uma campa que me tinham falado que tinha um computador esculpido em pedra, porque pertencia a um rapaz que tinha morrido cedo e que gostava muito do seu computador. Não encontrei mas entretanto comecei a olhar para umas pequenas lajes com versos que estavam em cima das campas e não resisti a fotografar. Se clicarem na imagem de cima ela amplia e podem ler melhor.
São versos singelos e algo populares que tentam, rimando, fazer uma pequena homenagem à pessoa que ali está.
Depois de umas voltas e ter fotografado bastantes campas e suas lages, comecei a sentir alguma irritação da parte das viúvas que me olhavam fixamente, provavelmente questionando-se o que fazia ali aquela estranha à terra, a mexer e a fotografar as campas dos seus, de modo que tentando não atiçar mais a ira das senhoras de preto, comecei dirigir-me para a saída.
Descendo um caminho lateral e meio refundido, não pude deixar de reparar no fim que algumas destas lages têm, provavelmente quando já passaram muitos anos e as campas são vagadas para um novo inquilino, servindo então já em cacos para calcetar as ruas do cemitério... Um final também simbólico e bonito a meu ver.
4 comentários:
Gostei tanto da tua história apesar de funebre sim. A ideia de usar as lajes para calcetar é gira de facto.
É a primeira vez que sei que utilizam restos de campas calcetar o chão. Interessante :)***
Nunca me tinha apercebido que reutilizavam as lápides antigas, mas acho o efeito bonito. Embora a ambiência seja funebre, gostei muito do post e das imagens que recolheste.Muito interessante. Pena as senhoras de preto não terem compreendido...
Reutilizam para muito mais, já vi em redor de vivendas, e nas bancas de um lugar para vender fruta, na altura gerou alguma polémica e acabaram por retirar, eram lages inteiras e apresentavam inscrições...
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