Há coisa de umas semanas entrei pela primeira vez numa linha de montagem de ecografias mamárias. Passo a explicar: tinha-me sido detectada uma "textura" diferente na mama esquerda e isso deu direito a uma credencial para fazer o referido exame. Dirigi-me com ele ao sítio da especialidade, marquei e aguardei uns dias.. Não ía preocupada, não havia grande historial de coisas más nas mamas familiares mais próximas.. Eu própria nunca tinha dado pela tal "textura", porque de resto ao toque tudo me parecera sempre igual: suave e cheio de bolinhas por dentro. Mas estava com curiosidade porque nunca tinha feito uma eco!
No dia do exame apresentei-me à menina do balcão que me mandou pra sala de espera. Dessa sala fui triada para uma outra, e depois é que começou a verdadeira linha de montagem
Às vezes é impressionante pensar como uma determinada actividade pode ter procura diária. Uma pessoa não pensa que todos os dias há senhoras a fazerem ecografias às mamas. Certamente não serão sempre as mesmas, mas mesmo assim... Na loja do meu avô, que era fotógrafo, todos os dias apareciam clientes, para tirar umas fotos tipo passe, para revelar um rolo (no tempo em que ainda se fazia isso), para fazer ampliações, tirar fotocópias... E eu que revelava talvez um rolo em cada 6 meses achava aquilo fantástico!
Adiante. Da segunda sala de espera fui finalmente chamada e levada para um cubículo que tinha duas portas (uma delas por onde entrei). Lá dentro um banquinho, um espelho e um cesto cheio de lenços de papel amarfanhados. Era tudo um pouco estranho. "Dispa-se da cintura para cima e aguarde, por favor". Fiquei ali sentada, semi nua, mochila no colo, enquanto ouvia de uma das portas uma conversa sobre ecografias.
Daí a bocadinho lá abriram a outra porta e eu saí para uma sala também pequena mas com mais portas (fechadas), uma marquesa e uma máquina. "Deite-se e ponha os braços para cima. Não, o rabo tem de ficar mais abaixo.. Isso!" Estava eu nestes preparos e entra uma médica que me cumprimenta e enquanto eu lhe tentava dizer o que me tinha levado ali, ela sem mais rodeios (como é que hei-de dizer..?) esborracha-me as mamas com ambas as mãos.
"Ah pois, é isto não é?". Sim de facto tinha acertado na mouche, ainda antes de eu lhe conseguir dizer "esquerda". Sem mais nada esguichou um creme transparente pra cima de mim e começou a esborrachar-me outra vez, mas desta vez com o leitorzinho do ecógrafo. Não doía, mas era estranho. De repente tive essa imagem: mais do que uma pessoa, eu era um par de mamas em cima daquela marquesa. Elas falavam com ela. Falavam as três, mais o ecógrafo.
"Isto não é nada, são glândulas que estão um pouco encaroçadas". Tanto melhor então. O exame estava concluído. Uma menina conduziu-me de volta ao meu cubículo, com uma data de lenços de papel na mão. Lá percebi a existência do tal cesto.. limpei-me o melhor que pude e vesti-me. Antes de sair ainda pude ouvir uma outra senhora na outra sala. "Deite-se aí.. O rabo mais pra baixo..."
Hoje fui buscar o resultado. Postaria aqui de bom grado uma imagem se fosse possível scannar ecografias, mas não consegui. O relatório rezava: Abundante componente fibro glandular próprio da idade jovem e da nuliparidade, traduz-se num padrão predominantemente hiperecogénico, com escasso tecido adiposo subcutâneo e pré-peitoral (tenho uma mama magra, e esta heim?). Não há nódulos sólidos ou quísticos, imagens de atenuação ou ectasia dos ductos. Conclusão: Ecografia mamária bilateral sem alterações. Que alívio.
Nota: O facto de me ter sentido algo reduzida a um par de mamas não significou que me tivessem tratado mal, nem por sombras! Durante o exame e por curiosidade perguntei que creme era aquele e a médica explicou-me que o ecógrafo seguia a lógica do sistema naval.. daí o creme porque precisava de um meio aquoso. Giro!